Jobs se foi. E agora?

Ontem (05/10/2011), ao saber da morte de Steve Jobs (fundador da Apple), pelo meu pai durante uma conversa via Skype, não consegui pensar em outra coisa, o que vai ser da Apple agora? Imagino que a mesma inquietação esteja na cabeça de muita gente, inclusive dos investidores.

Home page da Apple em 05/10/2011 Home page do site oficial da Apple desde a morte de Steve Jobs.

Em matéria de Apple, sou um leigo quase completo. Conhecia a marca sempre de ouvir falar, desde os anos 80. Sabia da existência dela e que vendia computadores diferenciados, bem mais caros por sinal e só. Por volta de 2002, tive de dar umas aulas particulares de Corel Draw para uma cliente minha e ela tinha um Mac, era um G3, aqueles tipo “bolinha”, lindo. Mas, minha dificuldade em operar aquele computador era grande, um desconforto que me fazia perguntar: por que as pessoas gostam disso?

Somente por volta de 2006/2007 que, lendo os boletins do Clube do Hardware, tomei ciência de quem era o “dono” da Apple, Steve Jobs. Nem o nome dele eu sabia. O que me atraía eram as notícias sobre a Apple, sempre polêmicas, ousadas. Aos poucos, fui me inteirando mais sobre o mundo da “maçã”. Dentre as notícias que chamavam minha atenção, a de que a empresa teria rompido com a IBM e passaria a adotar processadores da Intel e que, então, os macs poderiam ser multi-plataforma. Rodar, além do MacOSX, Windows, Linux ou até mesmo os três me interessou bastante. Até o afastamento dele da empresa, quando fez uma cirurgia para o tratamento do câncer no pâncreas. Já naquela época pensei: Se um cara desse morre, como ficaria a empresa?

Ainda em 2007, passei a lecionar em uma instituição de ensino que possuía laboratórios de computadores com Mac’s, me lembrei da minha antiga cliente. Comecei a usá-los mais cotidianamente, Mac’s mini e G3, sentia sempre o desconforto com a interface, mas me virava bem com eles. Na mesma época, estava pesquisando qual seria uma boa configuração de um notebook para mim. Considerei várias possibilidades, nunca um Mac. Conheci o Venâncio, em 2008, um fanboy da Apple e, dentre outros motivos (Apple estava em franca expansão naquela época), não só passei a considerar a possibilidade de ter um Mac como adquiri um MacBook e o tenho até hoje como equipamento principal.

Engraçado que, quando você tem um PC, por mais entusiasta que seja, é como votar no PSDB, ninguém te chama de “tucano” por isso e nem de “fanboy”. Mas, se você tiver preferência pelo PT, por exemplo, então você é um “PTista” com tudo de pejorativo a que o título tem direito. E se você tiver um Mac, então você é um fanboy, com tudo (de bom e de ruim) que o título tem direito, mesmo que você não seja um, como é o meu caso.

O fato é que me acostumei à interface do Mac e, mesmo ainda sentido algum desconforto, não me imagino voltando a usar Windows e isso me prende à Apple, porque não posso rodar o MacOSX em um PC (o resultado é horrível em termos de performance) e sou obrigado a usar o hardware da Apple, muito mais caro e que, eventualmente, apresenta problemas assim como os PC’s e o atendimento pós-venda da Apple é igualmente ruim. O fato de não ser um fanboy atrapalha bem pois me impede de enxergar um lindo “mundo-branco” ou de “alumínio-escovado”.

De todo modo, já sendo um Mac user, em 2009, ganhei o livro A Cabeça de Steve Jobs, num concurso promovido pela editora Arteccom e, aí sim, pude conhecer mais sobre o universo da Apple, a vida de Jobs e tudo o que isso significa para a sociedade atual. Apesar do livro ser celebrativo demais para meu gosto, ele mostra que Jobs, além de genial, era genioso, um sujeito arrogante, mal-educado, egoísta, ditador, controlador. Esse é o cara. Mas o que é o mundo dos negócios senão uma selva cheia dos piores monstros? Com a Apple não seria diferente, Jobs apenas defendeu seus interesses, a partir da maneira como entende e encara o mundo. O resultado tem dado certo, mas até quando?

Toda minha inquietação me faz pensar se a Apple merece toda essa algazarra promovida no mundo, toda essa mídia gratuita. Os produtos dela são realmente tudo isso ou tem excitação a mais história? Jobs foi, de fato, um visionário e teve condições de colocar suas idéias em prática e promover os resultados (tanto em equipamentos quanto em serviços e softwares). Foi responsável por uma série de inovações no mundo dos computadores. Sem a Apple, tudo seria mais lento nesse mercado, Apple fazia os concorrentes correrem atrás dela. Mas, o Mac enquanto produto vale todo esse “status”? O iPhone é realmente um aparelho diferenciado dos demais? E o iPad?

Na verdade, a Apple demora demais, às vezes, para anunciar uma novidade ao mundo. Mas, quando o faz, aquilo se torna um padrão (conhece o Magic Mouse? E o USB? E a iTunes Store?). A importância da Apple está mais para uma espécie de conceito do que a de, necessariamente, um produto de qualidade. Sim, porque a Apple, devido ao tamanho e ao alcance, já não controla satisfatoriamente o relacionamento com o cliente. Sou testemunha disso.

Em um comparativo com a Intel, por exemplo, sobre a qual li um belíssimo texto de Tom Wolfe acerca do fundador dela (e co-inventor do microchip), Bob Noyce, Jobs pode ser tranqüilamente comparado com ele em termos de importância, cada um na sua época, bem como todos os outros “gênios” que surgiram e que seguem apresentando inovações no mundo dos computadores.

Mas a Apple merece toda essa mídia gratuita? Minha resposta: Não. Ela trabalha para isso, é tudo estratégia de marketing (está dito no livro que li), só a inovação não é suficiente, é necessário manter os fanboys excitados ao redor do mundo todo o tempo. E, como resultado, eis a maior festa mundial quando a empresa lança novos produtos. Passei a chamar esses eventos de AppleFoolsDay. Não compartilho desse “espírito”, não acho que seja tudo isso (e o lançamento deste último iPhone exemplifica bem o fato) e tenho ressalvas acerca da forma “vertical” com que a Apple trabalha. Exploração predatória do mercado. Isso um dia acaba.

Daí refaço a pergunta do título deste texto: E agora? Jobs está para a Apple assim como Silvio Santos está para o SBT (Alguém coseguiu substituir o Lombardi?), assim como Lula está para o PT, assim como Edir Macedo está para a Igreja Universal, assim como Renato Russo está para a Legião Urbana (e ainda está), assim como Salvador Arena estava para a Termomecânica (conhece esse cara? Deveria). É impossível pensar a criatura sem o criador. No caso da Apple, isso fica mais evidente, a empresa quase faliu nos tempos em que ficou sem seu criador. Um sujeito que “metia o bedelho” em praticamente tudo, fazia questão da beleza, do design, da textura (tanto física como visual), ajudava a definir até a tipografia e o material usado na embalagem, pensava em como seus produtos poderiam proporcionar uma “melhor experiência” ao usuário (princípio básico da usabilidade, apesar do desconforto que sinto até hoje). Ao meu ver, essa é a essência da Apple. Coisa que só o dono é capaz de fazer e, infelizmente, o dono morreu.

Pensando por esse viés, o futuro da Apple é incerto. Certamente continuará a ser uma empresa bem sucedida, assim como a Microsoft, a Dell, a Intel, a Sony, a HP e tantas outras. Mas, jamais a Apple será a Apple, que agora entrará para a história. Os investidores também sabem disso.

Agora resta esperar para ver como será a nova fase da Apple. As bases da empresa estão intrinsecamente calcadas nos preceitos de Jobs. Como Luli Radfahrer disse numa palestra, “Apple tem mentalidade de empresa dos anos 70”. Tem mesmo! Você consegue imaginar o que significa mudar uma filosofia de décadas? Nem eu. E continuo a me perguntar: e agora?


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