Sim, com a construção do título mal feita. Hoje é finados. Me toquei disso pela manhã, quando o parça Luiz Freitas me desejou, pelo zap, um “feliz dia de finados pra você”. Quem me veio à cabeça, quase que de imediato, foi o meu amigo Jamil, que faleceu no carnaval de 2010 (por volta de).
Mandei o link do texto pro Luiz e me lembrei do Venâncio, que se foi em 2009. De repente me toquei que mais de 600 mil pessoas morreram em menos de dois anos de uma única doença! 600 mil pessoas. 600 mil!
E de reflexão em reflexão, vi que este meu blog tem uma relação, digamos, estreita com a morte, já que textos como os do Jamil, do Venâncio, Steve Jobs e, por que não, Dorsal Atlântica, embora esta seja do tipo Fênix. A morte figura sob vários significados e não é possível que não se possa (ou se deva) refletir sobre as figurações da morte. E qual seria o melhor dia pra se conversar (e refletir) sobre este assunto que não o de finados?
Morte tem muitos significados. Antes de continuar, vale dizer que o surgimento recente de um grupo chamado Crypta, que gerou o disco Echoes Of The Soul, trata dessas figurações sobre a morte. A ideia de concepção é polissêmica.
Continuando, que momento é este pelo qual passamos? Desde a morte de milhares diariamente (?!?), pelos assassinatos (também diários) de pretos pobres pela polícia, como a morte do processo democrático, a morte lenta das instituições, do meio ambiente. De que tipo de morte estamos fazendo parte atualmente?
Em casa, a patroa dizendo sobre acender velas e citando exemplos, se dá conta do número alterado para mais dos que já partiram, incluindo um primo dela de São Paulo, que faleceu recentemente numa condição que nos chocou, me faz atentar ao fato que sigo, cada vez mais, para um caminho mais ou menos parecido. Ok, mas quem não está? Seguimos no mesmo tempo, mas esta sensação não te traz nada à tona? O fato de que o mundo será bem pior nos anos posteriores, há algumas gerações depois da nossa?
É assustador, é (ou pode ser) gatilho às vezes. Há que se pensar com calma que, por outro lado, tudo tem seu fim. A resignação tem sua função nesses momentos já que a morte é pior pra quem fica. Será? É possível, creio. Embora deva ser difícil para ambos os lados. O fato é que o fim provoca recomeços. Inicia e reinicia ciclos o tempo todo. Finados é todo dia, assim como o dia das mães, pais, crianças, etc. Todo dia é dia.
Mas, como o hoje é hoje, um brinde a quem se foi e nos faz falta, como a minha cunhada que me ensinou a fazer salgados, o Arthur Maia, o primo, que ia consertar nossa máquina de escrever da década de 30, o Jamil, além de tantos mais. Um brinde às relações que não existem mais, às amizades que findaram, às épocas que passaram. Ao Estado de direito, que caminha a passos largos para o cadafalso. Brindemos. Lembremo-nos dos momentos passados. A memória pode nos manter conectados. Saudemos os mortos e deixemo-los descansar seu sono profundo bem longe deste mundo. Não acordemo-los.
E para quem ainda não foi, vida longa! Seguimos num período genocida e tenebroso da história no qual centenas de pessoas morrerão ainda hoje de uma única doença e serão também lembradas no ano que vem. No finados.
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